sábado, 14 de abril de 2012

Livros aleatórios de ficção-científico-fantasiosa que merecem ser lidos - Parte VI.


Por Carlos Gabriel F.

Antes de elaborar uma lista é necessário enfatizar que os itens abaixo descritos e devidamente mencionados estão sendo analisados por fatores subjetivos. Quero dizer: não foram registrados em cartório como os melhores já escritos ou que mereçam presença divina em suas respectivas estantes. Posso dizer que são livros absolutamente aleatórios, que li em um período de tempo e que creio merecer destaque aqui, neste espaço virtual que estamos criando paulatinamente.

O gênero que me chegou primeiramente à mente e que dá característica à lista é a ficção/fantasia, daqueles que narram estórias que existem apenas nas páginas amareladas e distanciam-se do plano real (quem sabe?); daquelas que criam seres novos e relacionamentos surpreendentes; que em cenários de horror traçam cenas de suspense capazes de dar vertigens; que dão vida àquilo que algum dia cientificamente possa vir a existir.

Já que estes aspectos foram mensurados (novamente. Confira a parte I, II, III, IV e V! que comecemos):

A Hora da Estrela” (1977) provavelmente é o livro mais lido-conhecido-citado de Clarice Lispector,  sim?! E, porventura, também o meu primeiro e um dos favoritos. O modo como a autora começa o seu capítulo, explodindo-se em si em uma última busca frenética de representação subjetiva em folhas sujas de nanquim com sentimentalismo exacerbado, é magnífico. Como começar pelo início, se as coisas acontecem antes de acontecer? Se na pré-pré-história já havia os monstros apocalípticos? Se a história não existe, passará a existir. Lispector traça a bela imagem de Macabéa, vívida no Rio de Janeiro,  em que aos olhos da introspecção do narrador (aqui tratado como Rodrigo S.M. – pseudônimo utilizado a priori pela autora) se torna algo grandioso, indeciso e volumoso. Encontramo-nos com romances ao longo do caminho e incertezas que circundam não apenas a nossa protagonista, mas também nós, que nos vemos mais uma vez representados em uma grande obra. 

“Será há veracidade nela – e é claro que a história é verdadeira embora inventada – que cada um reconheça em si mesmo porque todos nós somos um (...)”

Falemos de clássicos por um momento oportuno de felicidade? Nessa Era cibernética de queda superestimada da valorização do papel, quem tem dinheiro para livros redundantemente caros é rei. É nesse contexto de extrema indelicadeza monetária que procuro aproveitar todas as promoções possíveis: “O Senhor dos Anéis – A Sociedade do Anel” (1954), do aplaudido J. R. R. Tolkien, não ficou de fora. O livro retrata um novo mundo, uma perspectiva tão bem criada – com diferentes dialetos e culturas excêntricas – que nos regozija enquanto literatura. No primeiro livro da trilogia, Frodo Baggins fica responsável, junto à seus companheiros, de destruir O anel no único lugar possível: nas lavas do vulcão de Mordor. 

“Não devemos nos questionar porque algumas coisas nos acontecem e, sim,  o que podemos fazer com o tempo que nos é dado.”


Depois de me apaixonar pela narrativa de José Saramago em “Ensaio sobre a Cegueira”, a vida me levaria aos poucos, aos tropeços e desvios necessários, para suas outras obras também de tamanha primazia. Recomendaram-me “A Caverna” (2001). Tenho por mim teoricamente que “A Caverna”, “Ensaio sobre a Cegueira” e, por fim, “Ensaio sobre a Lucidez” traçam, respectivamente, uma grande emersão em direção a luz – vislumbra-se, na primeira brochura, a narração de uma grande escuridão, em quesitos de conhecimento, que vai se dissipando, em intermediário com a cegueira,  até encontrar o verdadeiro fulgor na lucidez. “A Caverna”, pois bem, trata de um oleiro, um guarda e sua noiva fabricando louças artesanais que aos poucos vão sendo rejeitadas numa sociedade cada vez mais industrializada. A parábola social de Saramago aqui voa em direção à Platão para nos explicar a fluidez da contemporaneidade – com seus shoppings sem janelas e ar enlatado.

“‘Que estranha cena descreves e que estranhos prisioneiros. São iguais a nós.’”

A Farsa” (2008) de Christopher Reich, primeiro de uma trilogia, é uma forma legal de se aventurar em um romance policial. O seu enredo, por vezes óbvio – o que não faz com que o livro deixe de ser original –, é entremeado de fatores que personificam um bom livro de ação: guerras, terrorismo, politicagem, traições e espionagem. A sua narrativa, intercalada entre a perspectiva de diferentes personagens, é constantemente marcada pelo extraordinário. São nos Alpes suíços que as histórias começam. Jonathan Ransom e sua esposa, Emma, praticavam seu esporte favorito quando são surpreendidos por uma avalanche. A mulher, ferida, morre com o acidente e faz do futuro do seu marido um verdadeiro baú de surpresas, em que cada passo tomado se é revelado um segredo. 

“Apesar da longa viagem, a borboleta ignorou as flores. Não buscou seu pólen de cheiro forte nem se deleitou com seu doce néctar. Em vez disso, decidiu voar mais alto (...)”

Na minha lista de livros cronologicamente lidos, “O Testamento” (2006) de Eric Van Lustbader encontra-se com primazia como o terceiro. Havia finalizado “O Código da Vinci” e procurava em desespero por algo que tivesse a mesma angulação retratada por Dan Brown. Lustbader bebe da mesma fonte que o autor, mas muitas das vezes de modo mais retraído, conciso e bonito. “O Testamento” retrata Braverman Shaw, que perde o pai em um brutal assassinato. Ainda ressentido pela perda, mesmo quando sua relação com seu progenitor não tenha sido exemplar ao longo das décadas, o personagem descobre que ele era membro alto escalão da Ordem dos Observantes Gnósticos e que tinha por principal função a proteção de escritos sagrados – entre eles o Testamento de Cristo. Nessa viagem de Lustbader, acompanhamos, frenéticos, a busca por entendimento de um filho que perdeu um pai distante. 

“Quando ele se virou, Dexter Shaw tomou o seu braço. Havia tanta coisa a dizer, tanta coisa a ser comunicada, e agora, na última hora, com sinos soando na cabeça, ele percebia que devia se sentir mais próximo do filho do que nunca.”

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